manhã de domingo epifanias do meu mochilão
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Epifanias do meu mochilão

Um desabafo sobre reflexões interiores

Pra quem não sabe farei um mochilão de 2 meses na Europa.

Nessa viagem vou gastar apenas 25 euros por dia, dormir com estranhos em hostels, pegar trem em estações que não conheço o idioma, lidar com diferentes culturas, gastronomia, pegar temperaturas negativas.

O que eu penso disso? Acredito que preciso de desafios.

Estou em busca de respostas. Respostas sobre como lidar comigo mesmo, pois não aguento mais viver num mundo superficial, com pessoas feitas de papel, vazias.

Quanto mais eu vivo mais percebo a futilidade das pessoas.

Todos estão preocupados demais com seus problemas que se esquecem de sorrir.

O mundo é um lugar frio.

Estamos rodeados de pessoas carentes, que precisam de afeto, que vivem em depressão e não sabemos, que pensam em suicídio, que precisam de ajuda, apoio, e o que fazemos?

Estamos mexendo em nossos celulares, estamos julgando nas redes sociais. Quem não julga não é?

Quando penso que uma ofensa à alguém pode acabar com o dia de alguém ou até a vida de alguém, percebo o poder das palavras.

Consigo entender isso observando o quanto me faz mal quando alguém debocha de mim.

Todos nós estamos cheios de feridas e muitos tentam tapa-las diminuindo os outros, obrigando-os a adorarem o deus que veem em seus espelhos.

Estou farto de ser introvertido e me esconder atrás de minhas inseguranças.

Estou cansado de tentar ser aprovado pelas pessoas erradas.

Estou cansado de um mundo com padrões de beleza que faz com que as pessoas odeiem seus corpos, a cor de sua pele, de seus olhos ou de seus cabelos.

Estou cansado de pessoas que tentam impor suas verdades.

Os grandes “pensadores”, os “intelectuais” que dizem “porque eu estudei, porque eu tenho doutorado, minha opinião vale mais que a sua”.

Estamos fartos do politicamente correto, não é mesmo?

Fartos de uma sociedade que nos impõe seus padrões, de uma mídia que nos diz como devemos pensar, da moda que nos diz como devemos nos vestir.

A verdade é que essa viagem é uma grande fuga de meus pensamentos, de minha rotina e das pessoas que conheço.

Da verdade ninguém consegue fugir mesmo tampando os olhos, e a verdade é que não importa onde você for, seus problemas pessoais, medos, angústias e ansiedades acompanharão você no trajeto.

Aqueles que não te conhecem não podem te ferir! Você está imune a eles!

O que eu busco é desapego.

manhã de domingo liberdade
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Relatos de viagem

É impressionante a riqueza que alguns têm em seus interiores, quão bela são suas almas e como suas luzes podem transparecer a essência do ser humano.

Nenhum de nós veio a esse mundo para fazer mal aos outros, mas acabamos fazendo a medida que nos corrompemos.

Cada um de nós tem um quebra-cabeça incompleto dentro de si e só trocando nossas peças poderemos nos completar.

A liberdade é um estado de espírito, o auto-conhecimento e a plenitude da mente.

Muitos estão vivendo uma vida que não querem ter ou sendo pessoas que não querem ser.

Quem nos salvará de nós mesmos?

Se você está na beira de um abismo não pule, você tem muito o que aprender!

O tempo é o nosso melhor amigo, é a maior ferramenta na construção de nosso caráter.

Tudo de ruim que passamos só nos faz mais fortes.

Quanto à mim, não vou mais fugir das perguntas ou deixar as turbulências dos paradoxos consumirem a minha luz.

Nem as inconsistências dos destinos apagão a chama das minhas velas.

Viver só vale a pena graças às pessoas.

As perguntas nunca deixarão de aparecer, porém a sabedoria nos conduzirá pelo caminho sãos e salvos.

“Vamos! Segurem a minha mão, me deem os seus olhos porque eu serei os seus” disse a sabedoria.

O universo é insignificante se comparado conosco, pois este mesmo vive em cada um de nós.

Como pode o universo caber dentro de alguém, você pode se perguntar.

Eu te faço outra pergunta:

Faz sentido estarmos dentro de um espaço que não tem fim, ou virmos de um tempo que sempre existiu?

O Sol e as estrelas estão no bolso de Deus, ou será que o mundo começou a contar as horas no despertador de seu relógio?

O universo é maior que nós em dimensão e tempo, mas não passa de uma dízima periódica que um dia esteve numa calculadora em decomposição nas profundezas do Oceano Pacífico.

Estamos vivos e conscientes, e a consciência pode ser tão bem explicada quanto explicar para um cego o que é a cor vermelha.

A consciência é infinita e esta cabe dentro de nós.

“Eu sou a luz do mundo” João 8:12.

manhã de domingo livre
Foto de Olga no Pexels

Diário do meu mochilão

Que experiência louca!

Não tenho palavras para descrever o quão emocionante tem sido essa viagem.

Ela me motivou a mudar, a me desafiar, a me conhecer, a acreditar mais em mim.

Descobri que encontro soluções para os obstáculos com facilidade e sou mais capaz do que imaginava.

Descobri muitas coisas que não sabia de mim mesmo e refleti muito sobre a vida.

Tenho feito novos amigos, conhecido lugares incríveis e tido experiências impossíveis de se descrever.

E além do mais meu francês e inglês estão excelentes.

Obtive melhores hábitos como andar no mínimo 10 km por dia, dormir e acordar cedo, organizar melhor meu orçamento e ser menos tímido e mais espontâneo.

Também tenho tido experiências desagradáveis, porém engraçadas, como não trocar de roupa por dias e passar dias sem almoçar.

Algumas das coisas que eu descobri é que não me sinto atraído por museus, igrejas, castelos ou arquitetura.

Não me interesso por quem colonizou ou foi colonizado, quem foi o rei ou imperador ou em que século foi proclamada a independência.

O que sei agora é que sou louco pelas pessoas, louco para conhecê-las e saber quem são.

Gosto de pessoas fáceis de conversar por serem gentis, simples e amáveis.

Pessoas assim me inspiram a não julgar alguém sem conhecer, a estar sempre aberto às diferenças e tomar para mim as qualidades de cada um.

As pessoas que conheci até agora nessa viagem são iradas! Realmente existem pessoas que valem a pena.

Também sou louco pela natureza. Ela me faz sentir a liberdade ao sentir o vento frio no meu rosto, olhar com os olhos atentos as montanhas, os lagos, o céu e andar nos bosques.

Ainda tenho muito o que aprender nessa viagem.

manhã de domingo menina na natureza
Foto de riciardus no Pexels

Sobre as pessoas

Você já parou para se avaliar?

Você já parou para pensar sobre você mesmo, sobre o seu passado, sua história, sobre quem você é?

Se eu te contasse que todos os seus defeitos te aperfeiçoam e todas as suas fraquezas fazem parte da sua beleza, você acreditaria?

Se eu te contasse que o seu interior transcende a vida, todas as suas qualidades brilham que nem estrelas na escuridão do céu à noite, você acreditaria?

Você é mais rico que pode imaginar!

Nessa viagem, até agora, eu fiz amigos de um monte de países diferentes.

É engraçado que eu precisei sair da minha zona de conforto para perceber que todos da minha vida são uma grande biblioteca, cheia de livros de drama, comédia, romance, suspense e aventura.

Todos temos uma história fascinante, cada um de nós!

Tive mais uma conclusão de muitas, onde esta foi que: não valorizamos quem somos e nem aqueles que temos na nossa vida.

Somos preciosos e cheios de luz. Somos belos, fortes e bravos.

Nem todos se importam conosco, portanto, que sejamos nossos melhores amigos e nossa melhor companhia.

O sentido da vida são as pessoas, por mais contraditórios que sejamos.

Quero conhecer as pessoas e entendê-las.

Quero aprender com elas e tomar sua sabedoria para mim.

Quero evoluir interiormente através da riqueza de suas trajetórias.

manhã de domingo casal no inverno
Foto de Mikhail Nilov no Pexels

Sobre Deus

Estive pensado a respeito do que é e quem é Deus.

Seria ele O Tudo? O universo infinitamente grande e o infinitamente pequeno? As energias? O que seria?

Ao meu ver, tudo que existe tem sintonia, observando como a vida surge e se desenvolve.

Como pode ser tão perfeito?

Antes eu via Deus como uma força impessoal, uma matéria que rege o universo.

Eu me questionava “se Deus é real por que deixou que acontecesse tanta coisa ruim comigo?”

Eu odiava Deus devido à minha criação cristã protestante conturbada dentro de casa e das igrejas que frequentei.

Com o tempo dei mais uma chance à ele, mas como saber se era real?

Encontrei um grupo de pessoas que o seguiam. Eles se reúnem em casas, e não se denominam com um nome.

Aprendi com eles que Deus não vive em templos, mas dentro de nós. Não precisamos fazer rituais, já que Deus não é religião.

Eu realmente não acreditava que Deus fosse real, mas eles tinham uma luz tão forte que cegava meus olhos.

Assim como reconhecemos uma macieira devido às maçãs que encontramos nela, também podemos encontrar Deus através das pessoas onde ele vive.

Aprendi que Deus não é um ser autoritário, ele pode ser nosso amigo.

Ele não nos obriga a fazer nada!

Aqueles que caminham com ele caminham porque sabem que a melhor maneira de lidar com as decepções é confiando.

A sua sabedoria é tão grande que nos conduz a lidar com nossos problemas e a evitá-los.

Ele nos ajuda a lidar com nossos corações partidos.

É o remédio para nossas feridas e a cola para todos os cacos estilhaçados da nossa alma.

Ele nos entende como ninguém pode entender, não nos julga e nos acolhe com todas nossas deficiências.

Só podemos saber que uma laranja é doce se a provarmos, da mesma forma, só podemos saber que Deus é real se o procurarmos.

A ciência nunca nos dará as respostas que precisamos, mas a experiência pessoal sim.

Muita luz para nossas vidas.

manhã de domingo em contato com Deus epifanias de mochilão
Foto de Lukas no Pexels

Refúgio

Solidão, como faço para te encontrar?

Você me dará as respostas que eu preciso?

Você afastará a dor do meu coração?

Quem curará minha alma?

Quem trará vida ao meu coração de novo?

Quem regenerará meus ossos?

Onde encontrarei repouso?

Meu espírito sai às ruas da cidade batendo nas portas procurando socorro!

Alguém pode me ouvir?

Será o silêncio que domina o coração dos homens?

Será ele o seu imperador?

E todos os súditos de corações corruptos estão embriagados pela ausência de luz de seus cômodos.

Conformados com seus corações fúnebres, enquanto se empanturram com seus banquetes de desilusões.

Solidão, como chego até ti?

Virá tu colocar os livros nas estantes?

Seria tu a resposta de todos os males?

Seria tua voz tão estridente quanto o silêncio revelador?

Enquanto o destino lança os dados, o silêncio assombra os falhos, com sua bipolaridade, ora atormentando, ora acolhendo.

Preciso de abrigo.

A solidão é quem sempre me acompanha quando estou rodeado de pessoas, e ainda assim não consigo a encontrar.

É perceptível a desordem dos meus pensamentos ou o equilíbrio dos meus paradoxos, porém não sou eu quem tenho as respostas, mas sim a solidão.

manhã de domingo pessoa pulando no lago epifanias de mochilão
Foto de Taryn Elliott no Pexels

Liberdade

Algum dia vocês olharam para o céu de uma maneira com que ele preenchesse seus olhos? Sem árvores ou prédios ao redor.

Quando faço isso tenho uma sensação de deslocamento, como se meu corpo estivesse fixo em lugar nenhum, como se eu estivesse no meio do oceano sem ter onde apoiar meus pés.

Seria assim o auge da liberdade? Como se fôssemos completamente desprendidos de nossos medos e inseguranças? Seria um escape de nós mesmos?

Não sei quanto à vocês, mas tem muitas coisas que me arrependo de ter feito, tantas pessoas que magoei e tantas que me magoaram.

Tantos pedacinhos nossos vão sendo danificados com o passar do tempo por pessoas que nos machucaram.

A incompreenção causa feridas em nosso coração que se transformam em fardo e este é pesado de carregar.

Uma boa metáfora seria ver o fardo como os prédios que nos impendem de ver inteiramente o céu.

São eles que nos impedem de desfrutar da paz de espírito e do amor próprio.

Eu descobri pessoalmente que, definitivamente, a única forma de seguir em frente é através do perdão.

Minha mãe me dizia quando eu era criança que, quando jogamos terra em alguém somos os primeiros a ficar sujos, enquanto quando entregamos flores a alguém ficamos com seu perfume em nossas mãos.

O ressentimento é um fardo muito pesado a se carregar, porém, quando perdoamos o fardo é aliviado.

E não é apenas perdoando que nos livramos do fardo, mas também pedindo perdão.

O perdão é a cura para os corações partidos e um dos caminhos para se alcançar a liberdade.

manhã de domingo mulher andando na praia epifanias de mochilão

Menos conforto, mais extremismo. À procura do ser interior!

No meu primeiro mochilão de dezembro de 2017 a fevereiro de 2018 eu viajei com dinheiro, internet, GPS, peguei avião, trem e ônibus, dormi em hostel e em HOTEL (acreditam?).

Já que não tinha hostel em Innsbruck, meu pai reservou uma casa pelo Airbnb pra mim, minha tia comprou uma passagem de avião, de ônibus e de trem pra mim, fiquei na casa da família por uns dias.

Todas essas foram boas experiências!

Isso tudo serviu como experiência pra mim já que tive que sair da minha zona de conforto por viver com pouco dinheiro, pouca roupa, passar dias sem comer, não ter privacidade, etc. E pude refletir sobre muitas coisas e me conhecer melhor.

Tudo foi muito fácil demais!

Meu próximo mochilão não será assim!

Dessa vez será o extremo! Quero um desafio maior. Quero descobrir até onde o meu instinto de sobrevivência pode me levar. Quero voltar ao homem primitivo no sentido de que antes não éramos escravos da tecnologia.

Para cozinhar não olhávamos receitas pelo YouTube, para conversar não enviávamos mensagens pelo WhatsApp em tempo real, não havia Facebook para publicarmos nossos pensamentos mas livros, para descobrir os caminhos não olhávamos pelo Google Maps.

Os homens tinham a solidão dos pensamentos.

Não haviam notificações para te fazerem olhar o tempo todo o celular.

Hoje você não fica mais sozinho mesmo trancado no seu quarto.

Pra conhecer seu amor você precisa do Tinder ou aplicativos relacionados, já que estamos com fone de ouvidos, ocupados para conhecer pessoas espontaneamente.

A tecnologia nos deixou confortáveis, sedentários, conformados.

Antes que me chamem de hipócrita, já que também tenho esses costumes, quero dizer que procuro viver sem isso por um tempo para me sentir só.

Dessa vez meu mochilão será o extremo!

Nesse mochilão vou viajar sem meu Smartphone, e sim com um celular descartável de 200 reais só para meus pais me ligarem em emergências. Sendo assim vou ficar sem WhatsApp, Facebook, Instagram, câmera digital, GPS, Google Maps, Google Tradutor, e outras ferramentas úteis.

Dinheiro? Nem pensar! No lugar de ônibus vou pegar carona. Para dormir vou acampar e fazer Worldpackers (um programa que você trabalha em troca de alimentação e estadia).

Leia mais: Diário de viagem de um jovem aventureiro

manhã de domingo acampando epifanias de mochilão
Foto de Ron Lach no Pexels

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